sábado, 28 de novembro de 2009

S.S. Comunicação Comparada VIII

Diário de bordo, dia 13 de novembro de 2009, a tempestade aumentou, tomou proporções monstruosas e resultou em uma catástrofe. A embarcação virou e naufragou, a maioria da tripulação sobreviveu, mas agora era cada um por si, querendo se salvar e salvar as suas preciosidades e tesouros pessoais. Nadando para as ilhotas da proximidade, nos separando, tomando novos objetivos pessoais. Obviamente muitos devem ter sidos mortos em ilhas que não aceitavam distinção de nenhum gênero, esses nativos não aceitam fácil gente do continente sem que tenham algum interesse particular. Eu agora encerro esta viagem, escrevendo da ilha onde fiquei escondido por todos esses dias, é uma ilha onde os nativos são pouco evoluídos, têm dificuldades de comunicação e aos poucos estão se dizimando, espero que eu sobreviva mais um pouco, espero que eu aprenda mais um pouco, espero um dia voltar pro continente. Se você encontrou esta garrafa saiba que independente de eu estar vivo ou não o importante é que contei a minha história.

S.S. Comunicação Comparada VII

Diário de bordo, dia 06 de novembro, uma tempestade nos atingiu e tivemos que parar em uma ilhota tão pequena que era possível atravessá-la em um dia. Os nativos eram moças e rapazes de corpos esculpidos, rostos lindos, que andavam nus pela ilha, eu pedi para a tripulação ficar no navio, mas ninguém me deu ouvidos, foram todos para a ilhota em busca de prazeres e uns disseram até que ficariam na ilha para sempre. Não sabíamos que essa ilhota nos escondia outra surpresa. Após a primeira noite na ilha alguns tripulantes meus acordaram amarrados cercado de nativos que diziam que iam jogar no mar os corpos que já foram “usados”, logo vi que eram os rapazes que tinham aprontado de noite. Os nativos diziam que os corpos só serviam pra uma noite só e que o prazer momentâneo foi grande, mas que passou. Eu tive que negociar novamente a vida da minha tripulação de uma maneira bem simples, eu disse: “Vocês têm uns aos outros, por que não se dão prazeres? Por que vocês não se dão prazeres a si próprios?”. No mesmo momento tanto homens quanto mulheres começaram a se masturbar onde estavam e eu voltei para o navio. E como se eu já não tivesse nenhum problema, chegando ao navio vi pedaços de papeis espalhados pelo navio, e cada pedaço estava falando mal de um dos tripulantes, o que gerou muito tumulto, algumas brigas, mas nada fora de controle. As “cartinhas” não eram assinadas, mas tenho certeza que foi alguém da tripulação mesmo, só espero que não aconteça um motim.

S. S. Comunicação Comparada VI

Diário de bordo, dia 30 de outubro de 2009, não vejo a hora de terminar esta expedição, o céu está se fechando cada vez mais e eu não quero ficar um mês a mais no mar por causa de tempestades. Após ter ficado uma semana sem ver terra firme descemos em uma ilha grande e bonita, precisávamos de algumas coisas para o navio. Demos sorte em pararmos nesta ilha, pois ela é cheia de barracas, mercados, comerciantes, eles vendem de tudo até vêem do mar flutuando. A princípio meus tripulantes ficaram deslumbrados e foram comprando de tudo, trocando mercadorias, era a Ilha do Tesouro. Andei um pouco mais, queria conhecer a ilha melhor e subindo uma elevação de rochas olhei para o outro lado da ilha e vi algo surpreendente. O outro lado da ilha não era tomado por barracas e gente negociando, era um lixão, montanhas e montanhas de lixo empilhado, era uma paisagem inteira de lixo. Perguntei a um nativo de onde vinha tanto lixo e ele me disse que aquilo eram as mercadorias que eles compraram mais que já ficaram velhas. Eu queria entender o quão velha elas eram quando me deparei com um nativo que acabara de comprar uma o concha de caramujo. Ele comprou, saiu da barraca, passou por mim e arremessou a concha na direção do lixo olhando pra mim e dizendo: “Ultrapassada.”, e nos dez minutos que fiquei lá o vi jogar mais três objetos fora. Andei mais um pouco e vi que as pessoas iam até o elevado de rochas constantemente, jogando suas mercadorias fora e indo buscar outras. Depois percebi que existiam tantas barracas que não havia nenhuma casa, eles não tinham onde guardar toda aquela mercadoria com eles, eles por fim das contas não possuíam nada, não possuíam nenhum bem. E fiquei sabendo que a mercadoria vem de navios que descarregam lá aos montes, certamente vêem carregados de lixo do continente.

S.S. Comunicação Comparada V

Diário de bordo, dia 23 de outubro de 2009, o vento acabou trazendo algumas nuvens para o céu, o sol está meio escondido agora, não pretendíamos parar tão cedo, temos um roteiro para seguir, mas uma ilha nos chamou a atenção. Ela não estava no mapa, tanto eu quanto meus companheiros de embarcação fomos tentados pelo mistério. Confesso que metade da tripulação ficou animada, a outra estava desanimada e cansada, eles reclamavam sobre horários e turnos, alguns dos rapazes queriam trabalhar durante a noite e dormir durante o dia por causa do sol, mas era de dia que eu precisava deles para manejar as velas ou outra função que necessitasse de claridade. A pequena ilha misteriosa foi uma perda de tempo. Todo nativo que eu encontrava por lá seguia a uma seita estranha, que tinha um “guru” que ditava as regras, a moda e todo o resto, ele explicava tudo que você perguntasse, ele era o dono da verdade. O problema é que ninguém o indagava ou ao menos duvidava, eram fiéis e acreditavam piamente em tudo o que dizia. Ridículo, eles não conseguiam nem fazer uma pequena reflexão sobre algo, ou discordar do tal “guru”. Pra mim ele não me passa de um vigarista enganando a todos e fazendo com que façam suas vontades, ninguém percebe que idiota é ficar sentado na frente dele seguindo os conselhos mais absurdos como se não soubessem pensar por si sós. Um pouco que contraditório a isso o nome dele era Theodor Viehweg em homenagem a um filósofo alemão, mas os seus fiéis o chamavam pelas iniciais. Não valia a pena perder mais de um dia rodeados de alienados.

S.S Comunicação Comparada IV

Diário de bordo, dia 16 de outubro de 2009, o sol estava no céu, não havia nuvens, mas o vento forte nos forçou a parar em uma ilha maior que ficava perto de uma parede de corais, foi a pior experiência da minha vida, mas mesmo assim valeu a pena, pois foi uma experiência que não se pode esquecer. Fugindo das brigas da última ilhota paramos bem em uma ilha onde aconteciam pequenas guerrilhas e ataques. Diferente das outras ilhas, nesta existiam tribos. Uma das tribos, que se localizava no centro da ilha, envolta de uma catedral majestosa com vitrais e pinturas, eles eram bem religiosos, rígidos, impenetráveis e intolerantes, quando perceberam a presença de meus tripulantes mandaram nos caçar e nos queimar em algum dos muitos rituais que realizavam, eram certamente fanáticos. E por esse motivo viviam em guerra com os moradores da orla, que eram extremamente curiosos, queriam saber como o mundo funcionava, estudavam os corais, os peixes, as aves costeiras, a vegetação e até a areia da praia. Mas toda essa vontade de saber nos colocou em uma enrascada, um grupo de nativos da orla que é mais radical que o resto nos prendeu como reféns por dois dias e duas noites, eles queriam dissecar nossos corpos a fim de estudar o “povo que veio do mar” (como se referiam a nós). Após muito tempo de conversa e negociação convenci a eles que para nos entender melhor eles teriam que nos observar no nosso habitat natural, o mar. Então nos soltaram ficaram na praia assistindo ao nosso navio partir, anotando tudo e ficando um pouco irritados conforme o navio se afastava.

S. S. Comunicação Comparada III

Diário de bordo, dia 09 de outubro de 2009, o céu estava aberto, mas o vento estava soprando mais forte, a tripulação está se preparando para zarpar, os nativos estão um pouco mais hostis que semana passada, discussões e brigas foram freqüentes nesses últimos dias, um grupo de jovens se irritou com o comportamento de um homem mais velho, eles diziam que o velho se passava por professor, mas que na verdade não ensinava nada. Os jovens se diziam cansados de apenas se comunicar uns com os outros, eles queriam informações de verdade. Percebi que eles se manifestavam como viciados, queriam informações de qualquer forma. Um tripulante meu me contou que ouviu dizer que eles contrabandeavam informações. Vendiam talvez para os habitantes do outro lado da ilha. Vamos embora antes que as coisas piorem por aqui.

S. S. Comunicação Comparada II

Diário de bordo, dia 02 de outubro de 2009, acampando em uma ilhota ao norte, tempo ainda estável e céu ainda ensolarado, mas sem previsão para zarpar. Os nativos da ilhota são muito hospitaleiros, nos tratam muito bem, querem ensinar tudo sobre a cultura deles, a ilha é cheia de estruturas que se parecem com as nossas escolas, eles dividem conhecimentos entre mais velhos e mais novos, homens e mulheres, compartilham tudo, são organizados, educados, e muito unidos. Uma parada tranqüila se não fosse por alguns morados do outro lado da ilhota que vão morar sozinhos e distante dos grupos, eles dizem que já sabem de tudo e se isolam, vez ou outra vem para este lado buscar algum material ou mercadoria, fazem barulho o dia todo tentando construir embarcações para sair de lá, mas não pedem ajuda pois se acham auto-suficientes. Eu sei muito bem que não se navega sozinho, não me admira que muitos já tenham morrido, mas eu admiro a vontade deles de conhecer o mundo e sair desta ilhota minúscula onde vivem presos, eu também tentaria fugir.